Uma confrontação com o recolhimento de Deus pode ser muito desorientadora. Ela pode nos tentar a ver Deus como o inimigo e a interpretar seu recolhimento como falta de interesse.
Um incidente na vida do profeta Daniel ilustra esse caso. Ele teve uma ligeira – ligeira comparada com a de Jó – confrontação com o recolhimento de Deus. Ele se debatia com um problema diário de oração não atendida: por que Deus ignorava seus pedidos insistentes? Durante 21 dias Daniel se dedicou à oração. Ele ficou pesaroso. Renunciou comidas finas. Jurou não comer carne nem beber vinho e deixou de usar loções em seu corpo. E o tempo inteiro clamou a Deus, mas não recebeu nenhuma resposta.
Um dia obteve muito mais do que esperava. Um ser sobrenatural, com olhos flamejantes como tochas e um rosto como um relâmpago, de repente apareceu a seu lado na margem de um rio. Os companheiros de Daniel fugiram aterrados. Quando ele tentou falar com o ser deslumbrante, mal conseguia respirar.
O visitante explicou a razão de seu longo atraso. Ele fora enviado para atender exatamente à primeira oração de Daniel, mas teve de enfrentar forte resistência do “príncipe do reino da Pérsia”. Finalmente, depois de um impasse de três semanas, chegaram reforços, e Miguel, um dos principais anjos, ajudou-o a abrir caminho através da oposição.
Não vou tentar interpretar esta assombrosa cena do Universo em guerra, exceto para mostrar um paralelo com Jó. Como Jó, Daniel desempenhou um papel decisivo na guerra entre as forças cósmicas do bem e do mal, embora boa parte da ação tenha acontecido fora do alcance da sua visão. Para ele, a oração talvez tenha parecido fútil e Deus indiferente; mas um olhar rápido “atrás das cortinas” revela exatamente o contrário. A perspectiva limitada de Daniel, como a de Jó, distorceu a realidade.
O quadro total, tendo o Universo como pano de fundo, inclui muita atividade que nós nuca vemos. Quando nos agarramos com obstinação a Deus em tempos de dificuldades, ou quando simplesmente oramos, mais – muito mais – do que sonhamos pode estar envolvido. É preciso ter fé para acreditar nisso, e fé para confiar que nunca somos abandonados, por mais distante que Deus pareça estar.
A Deus toda a glória!
Carlos R. Silva
primavera 2013
Referências:
• Bíblia Sagrada
Daniel 10:1-21
• Sinais da Graça – Philip Yancey
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