sábado, 23 de novembro de 2013

Uma leitura dos Salmos 73

Inveja, amargura, doença, o Santuário e a bondade de Deus

Sabe aqueles instantes, que podem ser rápidos ou durar dias, em que nos questionamos sobre a fé?

Nos Salmos 73, Asafe, músico, compositor de salmos e ministro de música constituído pelo próprio rei Davi, afirma que isso aconteceu com ele também.

Para que o leitor não enverede pelo caminho da dúvida como única solução, nem se tornem tão assustadoras as afirmações iniciais, o texto inicia com uma afirmação contundente de que Certamente Deus é bom para Israel, para os puros de coração, para não deixar dúvida.

Alguém acostumado à intimidade com Deus e com experiência de adoração verdadeira afirma que quase se desviou , por pouco não escorregou.

Por quê? Por causa da inveja.
Este sentimento é o querer ter o que é de outro, não basta ser igual ao do outro. É um desgosto ou pesar por causa da felicidade alheia. Está relacionada ao ter, ser e fazer em relação ao outro, tendo o outro como referência.

Numa das suas observações ele vê e fica indignado com a prosperidade do ímpio.
Asafe chegou a desanimar da virtude. E esse desânimo o levou a uma terrível crise. Pouco faltou para que ele rompesse com a ideia de um Deus sábio, bom e justo, e jogasse fora a rica tradição religiosa até então acumulada. Esteve bem perto de uma violenta mudança de pensamento e de comportamento.

Enquanto ele disciplinava o seu corpo, os pecadores pareciam livres, desinibidos, evoluídos, livres de complexos, bem-sucedidos, felizes, seguros e tranquilos. O que mais o desnorteou foi a falsa impressão de que seu zelo não lhe rendia nada. “Por que Deus não me trata de modo especial? Ele não me poupa dos problemas, do cansaço, da aflição, da doença nem da disciplina pelos meus, ainda que pequenos, erros.”, pensava ele. A popularidade dos pecadores confrontava o seu anonimato.  Por certo tempo ele compara-se ao ímpio e divaga. Comparou qualidades do ímpio com seus defeitos e vice-versa. Isso é cruel.

A crise pela qual passou foi séria. Demorou algum tempo e trouxe muito desgaste. Chega a dizer que o seu coração se azedou (amargurou) e sentia picadas nos rins. A amargura trouxe até doença, dores agudas. Amargura é coisa séria e, nesse sentido, Provérbios afirma que O coração em paz dá vida ao corpo, mas a inveja apodrece os ossos. Asafe tentou descobrir o que estava acontecendo, mas só o refletir para compreender isso, tornou-se uma pesada tarefa para ele.

Em sua reflexão ele inicia um processo para sair deste estado. Inicialmente refreia as suas palavras para que não fosse tomado por traidor e mau exemplo. Se eu dissesse: Falarei assim; eis que ofenderia a geração de teus filhos. Nada de agir precipitadamente, domínio.

Até que um dia Asafe entrou no santuário de Deus e compreendeu o destino dos ímpios pecadores que ele estava invejando.

Quando se entra no santuário de Deus, compreende-se que o destino dos que, aparentemente, estão bem está destinado à ruína. Andam por lugares escorregadios, são destruídos de repente e vivem com medo e pavor. São como um sonho que se vai quando a gente acorda.
É! Enquanto estamos amargurados, no íntimo, mesmo que ninguém perceba, sente-se inveja, diz Asafe. Agimos como insensatos e ignorantes, como animal que não pensa. Neste estado chego a ser orgulhoso, desrespeitoso, estúpido e insolente duvidando da justiça de Deus para comigo e para com os outros.
É claro que ficamos perplexos, isto é, sem entender nada, pois retiramos nosso voto de confiança em Deus.

Dentro do templo as coisas mudam, a sua vida ganha e entra em outra dimensão. Recobra-se a visão que vai além do tempo presente e aponta para a eternidade.
No templo há renovo. Renova-se a fé na existência de um Deus bom e cujo caráter é firme e inabalável. Fortalece-se a confiança em um Deus eterno, soberano, onipotente, sábio, justo e verdadeiro.

No santuário abre-se o coração, aquieta-se a alma e derrama-se perante o Senhor a nossa ansiedade, a nossa aflição, a dúvida, a revolta.
Então se passa a ver com clareza, não mais através do nevoeiro gerado pelos sentimentos ruins, e vêm à mente as palavras de outro salmista, Davi: “Não te indignes por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos que praticam a iniquidade”. Ou ainda “mais vale o pouco do justo que a abundância de muitos ímpios”.

A certeza de que Deus “é amoroso aos milhares, tardio em irar-se, perdoador, compensador dos que o buscam, mas justo e terrível em seus juízos, odeia todo o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado” deve ser intocável, nunca deve ser negociada.

Ah, a convicção! Na presença de Deus, no santuário, me lembro de que ele está sempre comigo, me toma e sustenta pela minha mão direita, dirige-me com os seus conselhos e me receberá como alguém importante, com honras.

A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti. Tudo o que eu tenho é o Senhor e só ele me basta, em qualquer dimensão.

Reconhecemos que podemos até fraquejar, mas a força que o meu coração precisa está em Deus, além do que ele é a minha herança eterna, todo o bem que eu preciso.

Estar perto de Deus é bom, refugiar-se nele a fim de fugir da angústia, da depressão e da inveja deverá ser o meu alvo.
Em gratidão proclamarei todos os seus feitos. Saio do santuário renovado, fortalecido, testemunhando: Deus é bom. Do jeitinho que o texto iniciou!

Deus é bom.

Se ele não fosse bom, nós já estaríamos destruídos. Louve e engrandeça a Deus porque ele é bom.
Não murmure, não blasfeme, apesar da luta, Deus é bom.
Estamos vivos, estamos na casa de Deus, no santuário, Deus é bom.
Ele cuida de nós, nos protege e nós nem vemos. Ele nos livra de coisas que nós nem sabemos.
Deus é bom. Engrandeça, adore e louve o seu nome porque ele é bom.
Deus está no controle, daqui a pouco você verá a sua bondade manifestar-se na sua vida. 

Deus é bom.


A Deus toda a glória!


Carlos R. Silva
primavera 2013


Referências:

·         Bíblia Sagrada
Salmos 73, Provérbios 14:30, Salmos 37:1,16, Êxodo 34:7, Naum 1:3, Números 14:18

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