Perdoa as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.
[Mateus 6:12]
No que diz respeito aos meus próprios pecados, é bastante segura (ainda que incerta) a aposta de que minhas desculpas não são tão boas quanto eu imagino.
No que diz respeito aos pecados dos outros contra mim, é seguro (ainda que incerto) apostar que suas desculpas são melhores do que eu imagino.
Por isso temos de começar por prestar atenção a tudo que possa mostrar que o outro não merece tanta censura quanto nós achávamos. Mas, mesmo se ele for absolutamente culpado, continuamos tendo de perdoá-lo; e ainda que noventa e nove por cento da sua aparente culpa possa ser explicada por desculpas realmente convincentes, o problema do perdão começa com aquele um por cento de culpa que ainda resta. Desculpar o que pode realmente ter uma boa desculpa não é caridade cristã, é apenas justiça. Ser cristão significa perdoar o indesculpável, porque Deus perdoou o indesculpável em você.
Isso é duro. Talvez não seja tão duro quanto perdoar uma única grande injúria. Mas como seríamos capazes de perdoar as persistentes provocações do cotidiano (continuar perdoando a sogra mandona, o marido tirano, a esposa implicante, a filha egoísta e o filho salafrário)? Só mesmo, acredito eu, colocando-nos em nosso lugar, acreditando no que dizemos todas as noites em nossas orações: “Perdoa os nossos pecados, assim como nós perdoamos os nossos devedores”. O perdão não nos é oferecido em nenhum outro termo. Recusá-lo significa recusar a graça de Deus para nós mesmos. Não há indícios de exceções, e Deus sabe bem o que está falando.
[Um Ano com C. S. Lewis, Editora Ultimato]
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