sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Pastores, ovelhas e o serviço cristão

A imagem da igreja como um rebanho de ovelhas parece não se encaixar direito em nosso mundo de hoje com suas megacidades e populações rurais em transformação. A maioria das pessoas provavelmente nunca viu um rebanho de ovelhas e nem tem ideia de como elas se comportam.

“O Senhor é meu pastor” é uma frase familiar e sentimental, mas para boa parte das pessoas esta imagem pertence a um mundo distante e rural, formado por pequenas vilas cercadas de ar puro e verdes pastagens.

Talvez, um dos motivos do esvaziamento, ou dos problemas que algumas igrejas enfrentam hoje, seja terem perdido o conceito bíblico do que elas realmente são.
Não são poucos os feridos que encontramos pelo caminho, que, numa analogia a movimentos legítimos os quais agregam e apontam aspirações de um grupo, integram o movimento dos sem igreja (msi).

Em nossa nobre tentativa de sermos “relevantes” em um mundo em transformação, abandonamos a imagem agropastoril do pastor e das ovelhas. Cegamente adotamos a imagem corporativa do pastor como um diretor executivo (CEO), os irmãos mais velhos como um quadro de diretores, e a família da igreja como clientes para servir.
Assim, imperceptivelmente mudamos nossas expectativas em relação ao que o ministro e a igreja devem ser e fazer, o que frequentemente leva a conflitos e dor.

Não foi por acaso que Jesus chamou a si mesmo de “bom pastor” ou que tenha comparado seu povo a um rebanho de ovelhas.
Sim, é uma antiga imagem rural, mas essa imagem traz com ela algumas verdades práticas de que precisamos desesperadamente no mundo de hoje. 

Pastores servem ovelhas “o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas.” (João 10:11). Pastores conhecem suas ovelhas e podem chama-las pelo nome. Eles levam suas ovelhas a lugares onde encontram alimento, água e abrigo. Protegem-nas dos inimigos, aplicam-lhes óleo curativo quando são tosadas ou quando se ferem. Pastores cuidam para que suas ovelhas sejam úteis, ao terem sua lã crescendo, produzindo leite e se reproduzindo. Quando alguma delas se perde, o pastor sai à sua procura para trazê-la de volta.

Esse é um quadro da igreja. A igreja local, o pastor e seu ministério.
Os pastores conduzem as ovelhas através da Palavra de Deus, para que recebam alimento espiritual e refrigério. Colocam alarmes contra os lobos de Satanás que atacam o rebanho (Atos 20:28-31) e as ensinam a serem úteis ao Reino de Deus (Efésios 4:11-12). Quando a ovelha se desgarra, o pastor amorosamente vai atrás dela (Tiago 5:19-20), e quando se fere, aplica o remédio que é a Palavra de Deus (Salmos 107:20) para promover a cura.

Pastorear é um ministério pessoal, sacrificial e exigente, mas também gratificante.
A marca do verdadeiro servo de Deus é uma toalha, com a qual enxuga os pés dos que lhe foram confiados. Esta marca jamais será um cetro. Ele, o pastor, serve a Cristo, servindo ao seu povo.

A natureza do ministério é o serviço.

Solus Christus!

Carlos R. Silva
verão 2015



Compilação de capítulos e notas: WIERSBE, Warren W. & David W., 10 Princípios Poderosos para o Serviço Cristão, Editora OBPC, Shedd Publicações, 2013
As anotações são uma ferramenta mnemônica para o estudo do livro.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Nossos impedimentos e a liberdade de Deus

Por modos inumeráveis, Deus se revela a todos. Ninguém fica prejudicado pela revelação de Deus. No entanto, algumas pessoas o recebem e outras não. Por quê?
Talvez porque algumas pessoas se desimpedem para Deus. Alguns ousam viver diante de um Deus livre.
É preciosa a definição de Rubem Alves para a liberdade de Deus:

Dizer que Deus é livre significa que ele se ri das nossas tentativas de conhece-lo pela teologia, aprisiona-lo em instituições, administra-lo pela burocracia. Ele sempre anda por lugares não previstos, na companhia de gente estranha, fazendo coisas meio esquisitas, tal e qual Jesus Cristo. (Rubem Alves. Dogmatismo e tolerância, Loyola). 


Há um texto de transição no livro de Atos. O cristianismo caminha com força em Jerusalém. O centurião Cornélio vive em Cesareia. Pedro é levado pela liberdade de Deus para lá. São duas visões. A visão de Cornélio, em que um anjo o avisa de suas orações e esmolas como pontos de contato com Deus; e a visão de Pedro, com fome e em êxtase, convidado por Deus a ultrapassar os limites da religião: os bichos impuros para prática religiosa conhecida de Pedro são puros aos olhos de Deus.
Pedro aceita o convite. Vai à casa de Cornélio e lá descobre que a visão dos bichos purificados fazia todo o sentido. Deus já estava em Cesareia antes de ele chegar. Pedro não foi evangelizar apenas. Foi evangelizado pelos de fora. Deus na casa de Cornélio é uma boa e inesperada notícia.

A grande notícia deste trecho em Atos não é a aproximação ao cristianismo de alguém com notoriedade, como Cornélio, chefe de uma tropa com cem soldados romanos, que provavelmente também governava a província onde vivia. Também não é a descoberta de que o cristianismo não é a religião de incultos apenas – tendo em vista a provável formação intelectual privilegiada do centurião.
A grande notícia desta história é que Deus não privilegia ninguém. Não há uma panelinha do céu. Deus busca a todos. Ele está definitivamente aberto a todos. Um Deus que escolhe a quem se revelar é um Deus só dos escolhidos, sem chance sequer de ser um outro Deus. O Deus dos escolhidos é um Deus prisioneiro. Porém o Deus que Lucas quer que conheçamos é o Deus de todos os homens e mulheres.


Na história de Cornélio somos apresentados à liberdade de Deus, experimentada por Pedro e seus companheiros de viagem. Então Pedro começou a falar: “Agora percebo verdadeiramente que Deus não trata as pessoas com parcialidade, mas de todas as nações aceita todo aquele que o teme e faz o que é justo.” (Atos 10:34).

O texto sugere que havia em Cornélio uma postura que o tornou desimpedido para Deus. Revela também uma postura em Pedro que o tornara impedido para Deus até então. Ambos experimentaram a liberdade divina. Pedro é liberto pela liberdade de Deus enquanto assiste ao espetáculo de um não religioso experimentando-o com intensidade inquestionável.
A maneira como o centurião vivia o tornou mais sensível à liberdade de Deus. Claro, este não é o único modo de Deus revelar-se. Essa história não é um padrão, na verdade, é um episódio não-padrão, um contraponto. É Deus correndo por fora! Deus além do quintal da igreja incipiente. Daí a resistência de Pedro, mesmo em êxtase. Daí seu susto, mesmo depois do êxtase.

Não podemos tratar Cornélio como fazem alguns, como alguém que até se encontrar com Pedro era “ímpio” ou que tenha se “convertido” depois de ouvir o sermão do evangelho de Pedro. O testemunho do texto é que Deus é com os não-judeus como foi com os judeus. Cornélio é um convite divino para conhecermos Deus pela sua liberdade e não pelas nossas suposições.

A história inicia-se relatando o que a torna surpreendente. Cornélio já amava a Deus antes de se envolver com os aspectos religiosos de amar a Deus. “Ele e toda a sua família eram piedosos e tementes a Deus; dava muitas esmolas ao povo e orava continuamente a Deus” (Atos 10.2). Ele tinha uma vida com Deus maior do que a vida com a religião. Uma genuína relação com Deus. Os não-judeus que buscavam ao Deus dos judeus sem se converterem ao judaísmo eram chamados de tementes a Deus.

A narrativa de Lucas nos dá a conhecer é a prioridade que a vivência com Deus tem sobre a vivência com a religião. É assombroso o fato de invertermos essa prioridade frequentemente. Isso acontece quando a nossa vida religiosa, as programações da religião e suas obrigações se tornam a única coisa em nós que tem a ver com Deus. Então, fora do momento religioso, ficamos com poucos vestígios de Deus.
O que resta de Deus na minha vida quando não estou nos ambientes da religião? O que sobra quando tiramos a roupa de crente?

O anjo que aparece a Cornélio em visão afirma que suas orações e esmolas tinham memória no céu. Deus era tocado pelo modo como ele tocava as pessoas à sua volta. Enquanto Pedro afirmava “jamais comerei algo impuro”. E quando o impuro toca em Deus mais que os puros?
A maneira como tocamos as pessoas ao nosso redor marca o quanto nos aproximamos de Deus. As orações chegam aos ouvidos de Deus, mas à sua memória chegam as esmolas, o modo como tocamos os “pequeninos” de Jesus. Quando foi que Jesus, entre os homens foi tocado desta forma? A resposta desmistifica nosso culto: “O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25:40).

Cornélio era alguém que não subestimava os sinais de Deus. Mesmo diante da religiosidade excludente, sectária, de Pedro, ele ainda se mostra disposto a ouvir o que Deus pode falar.
Pedro mostra-se como um instrumento inadequado, poderíamos dizer. Primeiro insiste em riscar da sua lista missionária quem não é judeu. Depois, mesmo com a agressiva revelação de Deus, discute com o Céu para não abrir mão do que pensa. E, ao chegar à casa de Cornélio, suas primeiras palavras afirmam que não gostaria de estar ali (Atos 10:28).
Mesmo assim, Cornélio está aberto para Deus o suficiente para enxergar um sinal divino na vida de Pedro. Deus se mostra, apesar da truculência de Pedro.

Gente de alma sensível é o tipo de gente que experimenta Deus como um derramamento, como descrito no texto. Uma história de sensibilidade não poderia ter outro desfecho. Não foi estratégia, nem qualquer outra coisa. Foi sensibilidade reverente que escancarou aquela casa para Deus e seu Espírito.
Veja a cronologia do derramamento do Espírito Santo sobre todos os daquela casa. Pedro não fez apelo. Enquanto pregava, o Espírito Santo foi derramado sobre todos.
A maneira como Cornélio recebe o Espírito mostra como ele ouve a Palavra de Deus. Ele experimenta o mesmo Deus, que já lhe havia falado, com uma nova mensagem. E no meio de um sermão que nem precisa ser concluído. Agora vem a religião, mas Deus veio primeiro.
O Espírito é vento livre, sopra onde quer (João 3:8). Assim é a liberdade de Deus.

Solus Christus!

Compilado e adaptado de:
Elienai Cabral Jr., Salvos da Perfeição, Ultimato

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Faça o que eu digo e o que eu faço

No evangelho, não vale o "Faça o que eu digo mas não faça o que eu faço!".
Os seguidores de Cristo são sal da terra e luz do mundo.
Como sal, são o equilíbrio, o tempero, num mundo desesperançado e sem direção.
São luz, mas não astros de luz própria ou popstars. Vivem para resplandecer a luz de Cristo e brilhar num mundo decadente, de modo que, ao ver sua luz, Deus seja glorificado. (Mateus 5:13-16).

Jesus está mais preocupado com o nosso comportamento do que com o nosso discurso.
Não basta ensinar o que é certo, as verdades do evangelho precisam ser colocadas em prática.
Do contrário, podemos passar a vida toda enganando-nos sem jamais termos sido conhecidos de Jesus, sem ele jamais ter tido parte em nossa vida e ministério.
Nem todo aquele que fala sobre o céu, tem parte com Deus. Mesmo que tenha produzido ações no reino espiritual em nome de Jesus, não garante que pertença a este Reino.
É preciso fazer a vontade de Deus para entrar no Reino dos Céus.

"Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.
Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome?
Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres? ’
Então eu lhes direi claramente: ‘Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal! ’ "
(Mateus 7:21-23).

O que ouve e pratica o evangelho é como o homem sensato, que constrói sobre a rocha.
Nossa casa, que representa nossa vida, resistirá às tempestades da vida se fizermos o que é correto, em vez de apenas falarmos disso.
Edificar sobre a rocha é ouvir e praticar o que se aprendeu ou seja, obedecer e fazer.
Portanto, resistir às tempestades passa por obediência.
O alicerce firmado na rocha é construido com as verdades e valores do evangelho, que colocados em prática produzem vida.

"Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha.
Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha.
Mas quem ouve estas minhas palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a sua casa sobre a areia.
Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela caiu. E foi grande a sua queda".
(Mateus 7:24-27).

Por oportuno, é do próprio Jesus a afirmação: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida". (João 14:6).
Ele ele é a direção, ele tem as respostas, ele é a fonte da vida.

A Deus toda a glória!

Carlos R. Silva
verão 2015


Referências

·         Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida, CPAD
·         Bíblia de Estudo NVI, Ed. Vida
·         Bíblia de Estudo NTLH, SBB
·         Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD

As aparências enganam

Sobre profetas e frutos

Isto é inquestionável em todas as esferas da vida e, na esfera do espírito, é tão verdadeiro quanto.
Nem todo o que fala das coisas do céu é de lá, nem tão pouco é garantido de que, ele próprio viverá lá.
Talvez, após uma vida inteira de aparências, ouça-se um amargo "nunca o conheci!", vindo do próprio Jesus!
Uma aparente ovelhinha pode revelar-se um lobo astuto ao mostrar o seu verdadeiro eu, o seu interior.
Não são os frutos que tornam a árvore boa, mas, a árvore boa produz bons frutos.
Somos conhecidos pelas coisas que fazemos, pelo exemplo que damos.
Somos sal da terra e luz do mundo. Vejam: somos o tempero, o equilíbrio do mundo. Somos luz do mundo, que não tem como ficar escondida. (Mateus 5:13-14).
Nossa “luz brilha diante dos homens para que vejam as nossas boas obras e Deus seja glorificado” (Mateus 5:16).
As palvras do frade italiano, são contundentes:
"Pregue o evangelho em todo o tempo. Se necessário, use palavras." (Francisco de Assis).

Os falsos profetas

"Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores.
Mateus 7:15

Existiam desde as épocas do AT. Profetizavam somente o que o rei e o povo queriam ouvir, como se esta fosse a mensagem de Deus.
Este é um problema contemporâneo e, segundo Jesus, precisa-se tomar cuidado com eles. Suas palavras soam como religiosas, mas, na realidade, são motivadas por dinheiro, fama e poder.
São facilmente identificados, pois, seus ensinamentos glorificam não a Cristo, mas a si mesmos.

Eles tratam da ferida do meu povo como se ela não fosse grave. "Paz, paz", dizem, quando não há paz alguma. (Jeremias 8:11)

Até quando os profetas continuarão a profetizar mentiras e as ilusões de suas próprias mentes? (Jeremias 23:26)

Ninguém os engane com palavras tolas, pois é por causa dessas coisas que a ira de Deus vem sobre os que vivem na desobediência. (Efésios 5:6)

Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido. Afastem-se deles.
Pois essas pessoas não estão servindo a Cristo, nosso Senhor, mas a seus próprios apetites. Mediante palavras suaves e bajulação, enganam os corações dos ingênuos. (
Romanos 16:17-18)

Atitude correta em relação a profecia e ensino

A atitude dos crentes de Beréia é um exemplo de como agir com todo o ensinamento ou palavra recebida.

E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim. (
Atos 17:10-11)

Cabe relembrar que a falta de conhecimento corrompe e destrói.
Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. ... (Oséias 4:6)

Bons frutos são produtos do bom caráter

Assim, pelos seus frutos vocês os reconhecerão! (Mateus 7:20)

O exame não deve ser apenas das palavras, mas também da vida. Árvores boas produzem bons frutos, verdadeiros profetas, além de ensinar o que é correto, possuem bom comportamento, um caráter elevado e vivem de acordo com as verdades das escrituras.
As motivações, a direção que apontam e os resultados que buscam servem para aferir, para verificar a que tipo de mestres estamos expostos.

Que frutos são esses?
Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade,
mansidão e domínio próprio. (
Gálatas 5:22-23)


A Deus toda a glória!

Carlos R. Silva
verão 2015

Referências

·         Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida, CPAD
·         Bíblia de Estudo NVI, Ed. Vida
·         Bíblia de Estudo NTLH, SBB
·         Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Quando a dor nos visita

Não são poucas as vezes em que, na tentativa de atrair pessoas ao evangelho, utiliza-se o expediente de oferece-lo como a solução para problemas cotidianos, melhora de vida e fim do sofrimento.
As pessoas têm sido atraídas não para o Cristo, nem pelo que ele é. Nem tão pouco são atraídos por causa do maior e mais importante feito que alguém já fez por toda a humanidade: deu-se a si mesmo para que outros pudessem viver. “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:28).

Muitos são atraídos para Jesus pelo que ele pode dar, visando alguma coisa. São atraídos pensando no que podem “ganhar com isso!”.

O resultado? Desanimador! Cada dia mais pessoas decepcionadas, pessoas que compraram “bênçãos” ao invés de vida (gato por lebre?). Gente que apostou tudo num novo formato de vida e descobriu que, a cada dia, precisava de mais milagres, porque não foi ensinada a pescar. Ao invés disso, teve peixe e pão sempre que a fome apertou (pelo menos a promessa de ter).

O evangelho não promete nada disso. Jesus ao perceber que a multidão o seguia por causa do pão multiplicado, deixou claro que o verdadeiro alimento era ele. Que era necessário ter parte com ele, a verdadeira comida. E na sequência pronunciou um dos seus mais duros discursos, a ponto de muitos irem embora.

Algo que atormenta todas as pessoas, quer cristãos ou não, é a dor. O problema da dor, através dos séculos, continua sem resposta.

Não nos alegramos por ter uma dor de cabeça. Não nos alegramos por ter um câncer nos consumindo. Mas podemos nos alegrar com a presença de Deus no meio de nossa dor. É possível sentir paz mesmo em meio à enfermidade. O que precisamos entender, para que não nos decepcionemos quando a aflição nos atinge, é que nós devemos esperá-la! É parte de nosso chamado como cristãos. Deus nos chamou para um mundo caído, para ministrar em um mundo que é um rio de lágrimas. É um lugar de dor. Não estamos livres dele, vivemos nele.

As palavras de Jesus “Neste mundo vocês terão aflições;” (João 16:33) deixam isso claro, sem meias palavras.

Somos afligidos com sofrimento. Por quê? Por que somos afligidos? As razões podem ser várias.

Temos sido maus mordomos da vida. Péssimos administradores do tempo, não cuidamos da nossa saúde, não nos alimentamos corretamente, dormimos pouco, guardamos rancores, nos endividamos, nos isolamos das pessoas, negligenciamos o cuidado com os que dependem de nós e muitas outras coisas.

Pode ser que Deus precise nos corrigir, ele pode irar-se e, inclusive, nos adoecer ou abater. Ele faz isso! Há diversos exemplos nas Escrituras. Como Miriã contraiu lepra? (Números 12:9-10) Deus a afligiu com lepra, para trazê-la ao arrependimento. E o que Jesus estava dizendo aqui? “Mas se não se arrependerem, todos vocês também perecerão". (Lucas 13:5).

Às vezes, nosso sofrimento pode ser porque Deus está nos corrigindo ou nos disciplinando. “Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos. Pois, qual o filho que não é disciplinado por seu pai?” (Hebreus 12:7).

É claro que não podemos concluir que todas as vezes que ficamos doentes, ou todas as vezes que sofremos, há uma correlação direta entre nossa desobediência e a dor que estamos experimentando. É um pensamento raso, a reflexão é mais profunda. Jó é uma prova que refuta esse argumento. Jó era mais justo do que qualquer um, e, ainda assim, sofreu mais do que qualquer um; e seria um terrível engano assumir que havia uma relação direta entre a sua culpa e a sua dor.

Então, nem sempre conhecemos o motivo! Exato, e não precisamos conhecer. O que precisamos conhecer é a Deus. Jó exigiu uma resposta para sua dor e pediu que Deus falasse com ele e lhe explicasse. Deus apareceu a Jó e o interrogou por um longo período. Que resposta Jó conseguiu de Deus? Nenhuma. Deus não lhe apresentou os motivos do sofrimento. A única resposta que Jó recebeu para sua aflição foi o próprio Deus. A presença de Deus. O que Deus estava dizendo era: “Jó, eu sou; estou com você; confie em mim”. Quando as pessoas dizem “confie em mim”, é hora de correr. Mas quando Deus diz “confie em mim”, faça isso.

Deus apresentou a Jó a sua soberania. Tudo o que precisamos muitas vezes não são respostas, mas convicções, ou seja, fé. E Jó, convencido pelo próprio Deus, o fez com maestria. Não posso deixar de abstrair dessa história: para nós é fácil, conhecemos os bastidores, temos o diálogo de Deus com satanás no início do livro. Jó não sabia de nada disso. E só posso concluir: Deus é maravilhoso, correu o risco, “apostou” no humano. Um Deus assim merece ser adorado, respeitado e amado.

Deus nunca prometeu a nenhum de nós que jamais iríamos ao vale da sombra da morte. O que ele nos prometeu foi que ele iria conosco.  “Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo;” (Salmos 23:4).

Nós temos o Bom Pastor. Temos sua presença, seu consolo, o que não significa que somos removidos da arena da dor, mas que somos sustentados na arena da dor.

A Deus toda a Glória!

Carlos R. Silva
verão 2015

Referências:

·         Carlos R. Silva, Reflexões.
·         R.C. Sproul. © 2014 Ligonier Ministries.
·         Bíblia de Estudo NVI, Vida.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Verdadeira Força é a Fraqueza

No livro Das profundezas – preces, de Kierkegaard, há uma oração intitulada “A fraqueza verdadeira”. Assim se expressa o filósofo dinamarquês: 

“Pai celeste! No mundo cá de fora, um é forte, outro é fraco. O forte – quem sabe – envaidece-se com a sua força; o débil suspira e, ai de mim, torna-se invejoso. Mas aqui, bem no interior da tua Igreja, todos somos fracos: aqui, perante tua presença – tu és o poderoso, só tu és o forte”.

Iniciamos o novo ano, traçando planos e projetos para a vida pessoal, profissional e ministerial.
A esta altura, já participamos de campanha de oração com o alvo de termos meses abençoados pela frente.
Sejamos honestos, nem tudo serão flores. E quando vier aquela sensação de impotência frente aos problemas que enfrentaremos? E quando a dúvida parecer falar mais alto, lá no íntimo?

O filósofo cristão Kierkegaard foi duro com o cristianismo de sua época, principalmente sua Igreja, a Luterana. Ele a chamava de “igreja de domingo”. Muita forma e pouca vida. Para ele, a questão fundamental não era se o cristianismo era verdadeiro, mas se era verdadeiro para a pessoa. Se a pessoa o vivia.

Hoje se procura uma igreja pelo que ela oferece, pelo entretenimento, e status que dá. Há até o termo igreja da moda. 
Não há muita preocupação se ela chama à uma vida santa. É um cristianismo social, de compromissos mundanos e conveniências: “O que é bom para mim?”.

No pensamento secular você é o que aparenta

No mundo, as pessoas são avaliadas pela força social, econômica ou cultural. A roupa e o carro dizem quem somos e quanto temos. Lutamos por status. Queremos ser grandes aos olhos alheios.
Quem não pode ser envolve-se em fofocar sobre os “famosos”, na Internet ou qualquer outra mídia, ou meio de comunicação.

E dentro da Igreja?

Mas dentro da igreja, diz Kierkegaard, todos são pequenos. Há só um Grande, o Senhor. Nós não fazemos a grandeza da igreja. Deus faz!

Dependência saudável

Alguém disse que admirava os pastores por que têm uma vida espiritualmente superior. Não é verdade. Estão sujeitos às mesmas provações que todos os demais cristãos. Passam por vales e enfrentam batalhas de todo o tipo. Não são um super-homem espiritual. Nunca foram.

No princípio, isto arrasa a qualquer um. Vemo-nos indignos do ministério. Como é que Deus nos chamou para o ministério pastoral? O que ele teria visto em nós?
Mas tenho aprendido que não preciso ser um super-homem. Preciso apenas ser dependente da graça de Deus. Esperar e viver da sua misericórdia.

Deus não espera que sejamos infalíveis e invencíveis, mas que sejamos suscetíveis, que estejamos ao alcance de sua graça.
Ele disse a Paulo: 
“A minha graça é tudo o que você precisa, pois o meu poder é mais forte quando você está fraco” (2Co 12.9).

“A minha graça é suficiente para você”. Solução melhor do que retirar o espinho de Paulo. A fraqueza humana abre a oportunidade ideal para a demonstração do poder divino.

Não somos vasos de ouro, mas de barro. São estes que Deus usa:
“Porém nós que temos esse tesouro espiritual somos como potes de barro para que fique claro que o poder supremo pertence a Deus e não a nós”.
2Coríntios 4.7

Somos fracos e carentes da graça de Deus. Nosso Salvador nos anima, perdoa, capacita e nos ajuda a viver.
A igreja de Jesus é a confraria de fracos e pecadores que ele, graciosamente, salvou e capacita para a vida. Fracos e pecadores que têm um Deus de poder e graça. Isto basta. Assim o fraco se torna forte.

A Deus toda a Glória!


Carlos R. Silva
verão 2015

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A base do ministério é o caráter

O perigo de uma vida dupla

A mídia tem sido especialmente dura com pessoas no ministério cristão que levam vidas duplas e causam desgraça a si mesmas, àqueles que amam e ao evangelho. Sabe-se que ministérios não são o único ambiente em que os hipócritas se escondem. Eles estão em todas as profissões. Banqueiros roubam dinheiro, atletas usam drogas, advogados fabricam evidências, políticos aceitam propinas, médicos vendem narcóticos e pais abusam de seus filhos. A igreja não é o único covil de ladrões. A natureza humana, sendo o que é, nos garante que encontremos pessoas mascaradas nos tribunais, clínicas, nos auditórios de palestras, escritórios oficiais, em mesmo em lares que parecem normais e felizes.

Isso, entretanto, não é desculpa para “pecados religiosos”. As pessoas esperam mais dos ministros do evangelho, justamente porque o ministério cristão está associado ao caráter. Batsell Barret Baxter afirma: “O caráter do pregador tornou-se a base sobre a qual tudo o mais se firma ou despenca”.

A construção do caráter

Phillips Brooks definiu a preparação para o ministério como “nada menos que a construção de um homem”. Ele disse:

Ela não pode ser o mero treinamento para certos truques. Também não pode ser o fornecimento de conhecimento abundante. Deve ser nada menos do que o amassar e temperar a natureza de um homem até torna-la de tal consistência e qualidade que seja passível de ser transmitida.

Em um de seus sermões, Brooks define “o grande propósito da vida” como “a moldagem do caráter pela verdade”. O que significa que precisamos ter talento, treinamento, experiência, reputação e personalidade, mas se não tivermos caráter, não teremos nada, pois a base do ministério é o caráter.
Robert Murray M’Cheyne escreveu a seu amigo missionário Daniel Edwards:

Lembre-se de que você é espada de Deus – instrumento dele -, creio que um vaso escolhido para carregar seu nome. O sucesso dependerá, em grande parte, da pureza e perfeição do instrumento. Não são tanto os grandes talentos que Deus abençoa, mas uma semelhança com Jesus. Um ministro santo é uma arma terrível nas mãos de Deus.

O caráter é a matéria-prima da vida, a partir da qual, pela diligência, construímos um templo, ou, por negligência, produzimos lixo.
Abraham Lincoln dizia que o caráter é como uma árvore e a reputação é como a sombra desta árvore. A reputação é o que as pessoas pensam que somos; caráter é o que Deus sabe que somos.  O evangelista D. L. Moody disse que o caráter é “o que um homem é no escuro”. O mestre em finanças J. P. Morgan declarou que “caráter é a melhor garantia que uma pessoa pode dar”.
Caráter é o que Jesus descreveu nas Bem-aventuranças e demonstrou em sua vida e ministério, conforme o relato dos Evangelhos. O caráter é formado pelas qualidades que o apóstolo Paulo chamou de “fruto do Espírito” em Gálatas 5.22,23; são as qualificações para o ofício em 1Timóteo 3 e em Tito 1. Pessoas de caráter têm integridade; o que elas dizem e fazem vem do coração inteiramente dedicado a Deus.

Integridade significa inteireza interior; não tentamos enganar os outros (hipocrisia) ou a nós mesmos (duplicidade).
Integridade é José dizer “não” à mulher de Potifar e ir para a prisão por ser honesto e casto. É Moisés desistir dos privilégios de um príncipe egípcio pelos perigos e problemas existentes para um profeta judeu, e por quarenta anos, sacrificialmente, servir a um povo que não merecia a sua liderança. É o profeta Jeremias devotar sua vida a suplicar a seu povo e ver a nação morrer perante seus olhos. É Paulo dizendo: “Meus irmãos, tenho cumprido meu dever para com Deus com toda a boa consequência, até o dia de hoje” (Atos 23.1, NVI), e baterem em sua boca por ter dito isso. É Martinho Lutero, na Dieta de Worms, declarando: “Não posso fazer outra coisa; esta é a minha posição. Que Deus me ajude. Amém”, e mesmo que não quisesse iniciava o movimento de Reforma da Igreja. É Jim Elliot escrevendo em seu jornal: “Não é tolo aquele que abre mão do que não pode reter para ganhar o que não pode perder”.

Caráter se revela nas coisas escondidas do dia-a-dia, como dizer a verdade quando uma mentira ira ajuda-lo a escapar de problemas, levar a culpa quando alguém a merece, não tomar atalhos em um trabalho que ninguém vai inspecionar, ou fazer sacrifícios para ajudar as pessoas que não irão apreciar o que você fizer de qualquer maneira. Caráter significa viver sua vida diante de Deus, temendo só a ele e procurando agrada-lo, não importa como você se sente ou o que outros possam dizer e fazer.

Construir um caráter é processo difícil que envolve a experiência de toda a vida. “A força do caráter é cumulativa”, escreveu Emerson em seu ensaio Autoconfiança. “Todos os dias de virtude que se passaram colaboram para tal.”
Para os cristãos, formar um caráter saudável e santo é levar as Escrituras a se tornarem uma parte do seu ser interior e obedecer ao que elas dizem. Esse tipo de caráter vem com o tempo dedicado, fervorosamente, à adoração e à oração, com os sacrifícios feitos com alegria e com o desejo de servir aos outros. O caráter é fortalecido quando sofremos e dependemos da graça de Deus para sermos conduzidos por ele e glorificamos seu nome. Isso significa dizer como Jó: “Mas ele conhece o caminho por onde ando; se me puser à prova, aparecerei como o ouro.”(Jó 23.10, NVI).

Nos dias de hoje, em que a mídia faz mágicas, pessoas insignificantes e sem talento podem alcançar fama internacional muito rapidamente, mas esse tipo de reputação não é caráter. Walter Savage Landor, nunca viu um aparelho de televisão, mas tinha essa “falsa fama” em mente quando, há mais de um século, escreveu: “Quando homens pequenos produzem grandes sombras, é sinal de que o sol está se pondo”.

Raramente o caráter se constrói em solidão; precisamos da responsabilidade e prestação de contas que outros trazem para nossa vida para que o caráter seja saudável e equilibrado. Embora não apreciemos certas experiências, precisamos dos desapontamentos e machucados que experimentamos quando amamos e servimos às pessoas. Sejam pessoas ligadas ao ministério pastoral, ao conselho de uma igreja, ou à família. O relacionamento de compromisso nos ajuda a seguir o planejamento de Deus e a construir um caráter que o agrade.

Questões de caráter

A natureza do ministério cristão nos apresenta oportunidades que podem ser testes que nos ajudam em nossa estruturação pessoal ou nos tentam para nos destruir. As pessoas nos abrem suas vidas e relacionamentos confidenciais podem levar à exploração. Semana após semana, nos apresentamos perante as pessoas e declaramos a Palavra de Deus. A apreciação destas pessoas pode inflar nosso ego, ou sua crítica, nos abater. O que achamos que é sucesso, Deus pode ver como fracasso, da mesma forma que nossas falhas aparentes podem tornar-se nossas maiores conquistas para a glória de Deus.

Embora chamados de “servos de todos”, os ministros têm mais tempo do que a maioria para administrar seu tempo e planejar suas atividades. “Em uma vida santa, deve haver controle do tempo”, escreveu Ralph Turnbull. “Devemos disciplinar as horas e submetê-las ao propósito de Deus”.

Há também a perigosa influência do amortecimento, a que Geroge Morrison chamou de “habituar-se a lidar com o que acompanha as coisas sagradas”. Mecanicamente, preparamos sermões e os pregamos, mas nosso coração não está abrasado pela mensagem de Deus. Dia após dia, oramos com pessoas feridas, e cada oração é igual à anterior, e ninguém percebe a diferença. O profeta Malaquias tinha esse tipo de ministério em mente quando denunciou os sacerdotes de seu tempo, que eram mercenários e não pastores de vidas. 

Ser capaz de devotar a vida inteira a estudar e ensinar a verdade de Deus, servindo com o povo de Deus, carregando fardos e compartilhando a construção da Igreja, é um grande privilégio!

Como o caráter se destrói

Como uma grande catedral, o caráter se constrói dia após dia, uma pedra de cada vez, com paciência e determinação, todo o tempo procurando seguir o plano de Deus passo a passo. E, como uma grande catedral, o caráter pode ser destruído silenciosamente, em vários lugares escondidos, imperceptíveis, mas nunca despercebidos por Deus. Um dia, a tempestade vem e a estrutura se rompe, e a queda é grande.

O caráter se destrói porque as pessoas falham em colocar em prática Provérbios 4.23: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (NVI). A vida é construída sobre o caráter e o caráter é construído sobre as decisões que tomamos. Contrariando os desejos de seus pais e a lei de Deus, Sansão decidiu se casar com uma mulher filisteia, sem perceber que sua decisão foi um dos primeiros passos para a sua derrota. Davi decidiu deixar o campo de batalha e ficar em casa repousando; mas ao deixar de lado suas armaduras, a material e a moral, descobriu que não poderia vencer as astutas ciladas do diabo ou os desejos do próprio corpo. Por outro lado, pessoas como José, Josué, Rute, Ester, Paulo e João, decidiram confiar em Deus, assumiram seu lugar junto ao povo de Deus e foram usados por Deus para realizar façanhas.

A erosão do caráter geralmente começa com a negligência. Deixamos de ler a Palavra, a adoração torna-se escassa e passamos a não dedicar mais tempo à meditação e à oração. Paramos de nos doar e, ao invés disso, começamos a perguntar “O que vou ganhar com isso?”. Paramos de ter fome de santidade e de exercitar a disciplina e o discernimento espiritual. Paramos de fazer aqueles sacrifícios que mostram nosso amor por Cristo e por seu povo. Fazemos nosso trabalho ministerial mecanicamente porque nosso coração não está mais nele. Com o tempo, nos vemos “fazendo arranjos” para pecar, convencidos de que podemos nos livrar da responsabilidade ou culpa daquilo que ninguém sabe.

O processo é mortal. Primeiro oscilamos, depois pecamos em segredo; em seguida vem a oculta erosão de caráter que leva a uma embaraçosa queda pública.
A tragédia é que podemos ser levados a pensar que é possível desfrutar de uma vida dupla sem consequências. Engana-se os outros e, mesmo que não se admita, a si memo. Não há como enganar a Deus e mudar suas leis. “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá” (Gálatas 6.7, NVI). O ventre da imaginação dá à luz o pecado e o pecado, por ser um assassino, cresce e começa a matar. “Então esse desejo, tendo concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, após ter se consumado, gera a morte” (Tiago 1.15, NVI). O caráter morre, a devoção morre, o lar feliz morre, a reputação morre, o ministério morre e, talvez, morra também o ministro.

A restauração do caráter

O caráter danificado pode ser restaurado? O ministério rompido pode ser reparado?
Não e sim.
Não, se o ofensor oferece desculpas em lugar de confissão, se mostra remorso em lugar de arrependimento, se resiste à autoridade e busca por todo o lado uma segunda ou terceira opinião. Não, se o ofensor corre para os braços do primeiro falso profeta que disser “Paz, paz”, onde não há paz. Não se o ofensor for em busca de atalhos, um curso de reabilitação rápido e infalível, que não é custoso nem doloroso, supervisionado por alguém que prefere a cal em vez da lavagem branqueadora de Deus.
Sim, se o ofensor está disposto a confessar o pecado com humildade, julgá-lo severamente, desviar-se dele por completo, submeter-se em obediência e cooperar pacientemente enquanto o Oleiro faz o vaso de novo. Se o processo original levou tempo e foi trabalhoso, o processo de reconstrução, da mesma forma, leva tempo e pode ser ainda mais trabalhoso, mas pode ser feito.

Recomendações finais

Nenhum servo verdadeiro de Deus vai tentar descobrir o quão perto do pecado consegue chegar e ainda assim permanecer aceitável para o serviço. Ao contrário, ele respeita as palavras do salmista: “Odeiem o mal, vocês que amam o SENHOR ...” (Salmos 97.10, NVI). Ele considera o conselho de Salomão: “Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida.” (Provérbios 4.23, NVI).

É mais fácil construir um caráter e zelar por ele do que reconstruí-lo depois de tê-lo perdido. “Quero crer que o grande empreendimento na terra é a santificação da própria alma”
(Henry Martyn)

Referências

WIERSBE, Warren W. & David W., 10 Princípios Poderosos para o Serviço Cristão, Editora OBPC, Shedd Publicações, 2013

Compilação de capítulos e notas. As anotações são uma ferramenta mnemônica para o estudo do livro. Muito pouco foi adicionado, vez por outra, uma alteração de sintaxe ou semantica que oferece um entendimento melhor propondo até uma tradução mais adequada.