Ao ver chorando Maria, irmã de Lázaro, Jesus ficou comovido e aflito.
Jesus chorou!
Eis aí o comportamento de um Deus amoroso e
bom.
Temos um Deus que se importa conosco a ponto de
demonstrar sua comoção publicamente.
Esta comoção é um contraste com o conceito
grego naquela época de que os deuses eram indiferentes, não se envolviam com
seres humanos.
Mas Jesus demonstrou o contrário disso:
compaixão, indignação, tristeza e até frustração.
Temos um Deus que se importa.
Jamais tenha medo
de levar seus sentimentos a Jesus, nem de expressa-los e revela-los a ele. Jesus os entende, porque experimentou cada um deles.
Em contraste com o procedimento de Jesus, as pessoas presentes parece que não se conformavam de que ele tivesse deixado Lázaro morrer.
Muito humano, muito nosso esse comportamento de querer nivelar as ações de Deus, de querer determinar a forma como ele deve agir.
É assim que age todo o que não entende o agir de Jesus.
É assim que age o que sofre de religiosidade (religiosivite?).
A tentativa de colocar Deus numa caixinha. Moldar e
determinar a forma como ele deve agir.
Isso é perigoso, pode nos levar a crer que Deus pode ser administrado. E aí teríamos receitas para dobrar a Deus, receitas para
obter o favor de Deus!
Jesus pretendia mostrar a sua glória. Ser
glorificado através dos milagres que realiza através do seu povo: "Essa doença não acabará em
morte; é para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por
meio dela" (João 11:4).
Ele pretendia mostrar um sinal
para estimular a crença nele mesmo:
"Lázaro morreu, e para o bem de vocês estou contente por não ter estado lá, para que vocês
creiam. Mas, vamos até ele" (João 11:14-15).
E quanto ao "tirar a pedra"?
O primeiro aspecto relativo ao tirar a pedra é
a racionalidade de Marta argumentando que Lázaro estava morto há quatro dias, e
que o corpo cheirava mal. Estava coberta de razão.
Jesus confronta a racionalidade de
Marta com a sua necessidade de crer. Ela precisa crer. "Se você crer, você verá a revelação do poder glorioso de Deus" (João 11:40).
Isto é particularmente instrutivo. Somos muito
racionalistas e custa-nos submeter a razão, por completo, ao poder de Jesus.
Não que sejamos incrédulos. Marta também não era.
Mas eu, assim como muitas pessoas, “colocava a razão a serviço de Cristo”, mais
do que submetia a razão a Cristo. São coisas diferentes.
Muitos de nós, crentes, igrejas e instituições
temos perdido a capacidade de crer no poder transformador de Jesus, em sua
infinita capacidade de mudar situações.
Trocamos a fé por análises sóbrias, bem
fundamentadas e racionais da situação.
Assim transformamos o evangelho em algo sem
poder, sem atrativo. Transformamos o evangelho apenas num amontoado de informações
sobre Deus.
O evangelho não é estudar Deus. É fortalecer-se
nele. “fortalecei-vos no Senhor e na
força do seu poder. “ (Efésios 6:10).
A vida abundante com Jesus passa a ser o ter
informações sobre Jesus. Isto é um empobrecimento do evangelho.
Jesus poderia tirar a pedra?
Este é o segundo aspecto sobre tirar pedras.
O homem que já se decidiu trazer Lázaro do
mundo dos mortos, e tinha autoridade para tal, poderia fazer a pedra
desaparecer. Ou invocar anjos para arrastá-la.
Mas tirar Lázaro da morte só ele pode fazer.
Tirar pedras é com os homens. Uma parceria,
digamos assim, para o andamento da obra de Deus.
"Porque nós somos cooperadores de Deus;" (1 Coríntios 3:9).
Ele faz o impossível. O possível, nós devemos
fazer, crendo nele, e, o mais importante, sob sua orientação, seguindo as suas
ordens.
Se tirassem a pedra antes, nada adiantaria. Se
deixassem para depois, também seria inútil. Deve-se agir sob a orientação de
Jesus e crendo no seu poder.
A resposta do Salvador à objeção de Marta é
digna de nota: “Não te disse que, se
creres, verás a glória de Deus?” (v. 40).
Ele não disse: “Se planejares”. Ou “Se fores
bem racional”. Ou “Se usares as modernas técnicas de arrastamento de pedra”.
Nem ainda “Façam um cursinho sobre como arrastar pedras”.
Ele disse “Se creres”.
Somos chamados a crer no irracional, no
impossível, no que os homens não conseguem nem podem explicar.
Cuidemos para não rebaixarmos o evangelho ao
reino do possível ou trazer a igreja para o degrau do “Só o que foi bem
planejado tem possibilidade de dar certo”.
O que faz tudo dar certo é o poder de Cristo.
Precisamos voltar a crer no sobrenatural, a
entender que a razão é dom de Deus, mas que nunca pode reger as ações da
igreja, e que nossa vocação é para sempre esperarmos dele o desconcertante.
Nós vemos a glória de Deus quando cremos de
todo coração que ele pode fazer o impossível.
Para que aconteça conosco só o possível não
precisamos de Jesus.
Mas, ele é o Senhor exatamente para ser
glorificado na nossa impossibilidade, na nossa fraqueza, quando, é claro,
agimos em obediência.
Solus Christus!
Carlos R. Silva
verão 2015
Meditações em João 11:1-45 - Parte 3 / 3. Três reflexões sobre a morte e ressurreição de Lázaro.
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