E o Senhor colocou em Caim um sinal (Gn 4.15).
A maneira como Deus age sempre surpreende.
Nosso senso de juizo e de valores não concebe um Deus santo, para quem o pecado é abominação, mas, ao mesmo tempo, amoroso e bom.
Um pai que alerta, "o pecado está na porta, à sua espera. Ele quer dominá-lo, mas você precisa vencê-lo" (Gn4.7), mas que deixa ir.
Introdução
Já ouvimos especulações, como o de que a raça negra era maldita, pois Deus a amaldiçoara em
Caim. Diziam que Deus pôs nele um sinal, que era a cor negra, e ele foi para a
região da África. Por isso a África seria atrasada.
Muitos usaram esse
ensinamento da "marca de Caim" como justificativa para o comércio
africano de escravos e a discriminação contra as pessoas de pele preta/escura. Esta interpretação da marca de Caim é completamente
antibíblica.
A maldição sobre Caim
em Gênesis capítulo 4 foi no próprio Caim. Nada é dito da maldição de Caim
sendo passada aos seus descendentes.
É certo que a África
enfrenta problemas econômicos. Que nada têm a ver com Caim. Nem ela é maldita
por causa dele.
As raças descendem de
Noé, e a povoação de toda a terra se dá após o dilúvio. Portanto, a linhagem de
Caim foi encerrada pelo Dilúvio
“São essas as famílias dos filhos de Noé, nação
por nação, de acordo com as várias linhas de descendentes. Depois do dilúvio
todas as nações da terra descenderam de Noé”. (Gn10.32).
1. Que sinal foi este?
A Bíblia não diz e o
bom senso manda que calemos. Quando ela fala, nós falamos. Quando ela se cala,
nós calamos.
A palavra hebraica
usada (‘ôt) significa
sinal, marca, prodígio, evento. O termo contempla categorias diferentes de
uso. Aparece em Gênesis 1.14, quando o sol e a lua são sinais para marcar as
estações do ano. Em Gênesis 9.13 e 17.11, onde o arco-íris e a circuncisão são
“sinal” da aliança. É o termo para “sinal”, em Josué 4.6, para as pedras
tiradas do Jordão. É usado para os sinais do Egito, figura de juízo.
Então o termo é muito
amplo para se definir um sentido. Quando mais para receber uma caracterização
tão radical, de estigmatizar uma raça.
Agora, o significado
do sinal do Eterno em Caim, significa muito.
2. O Sinal aponta para a Proteção e Cuidado de Deus
O sinal não foi maldição, mas proteção. Quem encontrasse Caim não deveria matá-lo. E Deus também não o ameaçou com morte por causa de seu pecado. Caim temeu que, sendo peregrino, fosse presa fácil para salteadores.
Caim disse a Deus, o Senhor:
— Eu não vou poder aguentar esse castigo tão pesado.
Hoje tu estás me expulsando desta terra. Terei de andar pelo mundo sempre fugindo e me escondendo da tua presença. E qualquer pessoa que me encontrar vai querer me matar. (Gn 4.13).
O que chama a atenção no episódio não é o castigo de Deus, mas seu cuidado para com um pecador. Deus já o punira: seria errante. Mas não competia a ninguém matá-lo, por qualquer motivo.
Deus pode odiar o pecado e pode trazer juízo ao pecador, mas isso é atribuição sua.
Do que mais nos fala este sinal?
3. O Sinal aponta para a Santidade de Deus
Deus é santo. A santidade de Deus é o que o separa e distingue de todos os outros seres. A nós, criados à sua imagem e semelhança, este é um dos atributos dele, dos quais não compartilhamos.
A santidade de Deus encarna o mistério da Sua grandiosidade e nos faz olhar para Ele com assombro quando começamos a compreender um pouco da Sua majestade.
Pensar e entender um pouco desta santidade deveria nos desmontar, como aconteceu com o profeta Isaías.
Em dois momentos a Bíblia apresenta a expressão "santo, santo, santo". Uma vez no Antigo Testamento (Is 6:3) e uma no Novo Testamento (Ap 4:8). Em ambos, a frase é falada ou cantada por criaturas celestiais e ambas as vezes ela ocorre na visão de um homem que foi transportado para o trono de Deus: o profeta Isaías e depois o apóstolo João.
Isaías testemunhou a santidade de Deus em Sua visão (Is 6). Apesar de Isaías ser um profeta de Deus e um homem justo, sua reação à visão da santidade de Deus lhe trouxe profunda consciência dos seus próprios pecados e ele fica desesperado por sua vida (Is 6:5).
É isto que sempre deveria causar o reconhecimento da presença de um Deus santo, majestoso, poderoso. Deveria nos desmontar.
Infelizmente, essa não é a realidade de boa parte dos adoradores!
Até mesmo os anjos, os serafins, na presença de Deus, aqueles que clamavam "Santo, Santo, Santo é o Senhor Todo-Poderoso", cobriram seus rostos com duas asas, cobriam os pés com outras duas e com duas voavam.
Reverência, temor! Cobrir o rosto e os pés é desencadeado pela consciência da presença imediata de Deus.
Foi bem assim que reagiu Moisés ao saber que estava na presença do Senhor, lá no monte Horebe, cobriu o rosto! (Êxodo 3:1-6).
Os serafins tentavam esconder-se o máximo possível, em reconhecimento da sua indignidade na presença do Santo.
Que lição!
A reverência mostrada a Deus pelos anjos deve nos lembrar de nossa própria presunção quando nos apressamos em Sua presença irreverentemente e impensadamente, como frequentemente fazemos porque não entendemos a Sua santidade.
A visão de João do trono de Deus em Apocalipse 4 foi semelhante à de Isaías. Novamente, havia criaturas viventes ao redor do trono proclamando: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus Todo-Poderoso" (Ap 4:8), em reverência e temor ao Santo.
João prossegue descrevendo estas criaturas dando glória, honra e reverência a Deus continuamente em torno do Seu trono.
Curiosamente, a reação de João à visão de Deus em Seu trono é diferente da de Isaías. Não há registro de João caindo em terror e consciência do seu próprio estado pecaminoso.
Porque?
É aí que nós nos rendemos diante e reverenciamos a obra e pessoa bendita do Senhor Jesus Cristo.
João já tinha encontrado o Cristo Ressurreto no começo da sua visão “Quando o vi, caí aos seus pés como morto.
Então ele colocou sua mão direita sobre mim e disse: “Não tenha medo.” (Ap 1:17).
É por isso também que hoje, pecadores, insubmissos, errantes como nós, podemos nos aproximar do trono da graça se tivermos a mão de Cristo sobre nós na forma da sua justiça, a qual foi trocada pelo nosso pecado na cruz (2 Co 5:21).
Deus é santo e não tolera o pecado. O episódio de Caim nos fala da santidade de Deus. As obras de Caim eram más.
Caim não cria na moralidade do mundo nem no governo de Deus.
Há uma referência a isso no Novo Testamento: “Não sejamos como Caim, que pertencia ao Maligno e matou o próprio irmão. E por que o matou? Porque o que Caim fazia era mau, e o que o seu irmão fazia era bom”. (1João 3.12).
O pecador não tem como permanecer na presença de Deus. A expulsão de Caim mostra isso.
Com Adão e Eva aconteceu da mesma maneira:
Por isso o Senhor Deus expulsou o homem do jardim do Éden e fez com que ele cultivasse a terra da qual havia sido formado.
Deus expulsou o homem e no lado leste do jardim pôs os querubins e uma espada de fogo que dava voltas em todas as direções. Deus fez isso para que ninguém chegasse perto da árvore da vida. (Gn 3.23-24).
4. O Sinal fala da Graça
O sinal de Caim nos fala da graça: Deus ama e cuida do pecador. Ele se preocupa com a integridade do pecador. Haverá juízo, mas este compete a Deus, e não aos homens.
Por pior que seja o pecado, Deus estende sua graça ao pecador.
O ladrão arrependido na cruz prova isso. Pouco antes de morrer caiu em si, num rasgo de fé. Jesus lhe deu a gloriosa promessa de que ambos estariam juntos no paraíso, no mesmo dia.
Boa lembrança para nós. Alguns segmentos da igreja parecem odiar o pecador. Aliás, alguns segmentos da igreja devoram-se: parecem odiar a própria igreja.
Não devemos amar o mundo moral, a Escritura diz “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai, não está nele.” (1Jo 2.15), mas devemos amar o mundo gente, o mundo pessoas.
João refere-se à não ceder à cobiça da carne, à cobiça dos olhos e à ostentação de bens, produtos do mundo moralmente perdido. (1Jo 2.16).
Conclusão
Deus ama o mundo (Jo 3.16) e lhe deu um sinal, o maior de todos, para provar seu interesse por ele: a cruz de Jesus.
A cruz é o grande sinal de que Deus se interessa pelos “Caims” de hoje, e deseja salvá-los.
Deus não aceita seu comportamento, eles não podem viver na sua presença da forma como estão, mas ele se interessa pelos pecadores.
O sinal de Caim é proteção e não julgamento.
É graça, não juízo.
Assim é Deus. Gracioso com todos os pecadores.
Assim deve ser a igreja: santa, mas manifestadora da graça de Deus ao pecador.
A Deus toda a Glória!
Carlos R. Silva
Dezembro 2015
Referências
• Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida, CPAD
• Bíblia de Estudo NVI, Ed. Vida
• Bíblia de Estudo NTLH, SBB
• Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD
• Pr. Isaltino G. C. Filho, Meditações em Gênesis
• Got Questions?org - Qual foi a marca que Deus colocou em Caim?
• Wikipédia, a enciclopédia livre - Caim
Mensagem Pregada em 09/11/2015 – OBPC Joanópolis